Metade dos brasileiros não faz atividades físicas

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Pesquisa ouviu 2.021 pessoas acima de 16 anos espalhadas por todas as regiões do País

Entre as definições de “sedentário”, de acordo com o Dicionário Houaiss, está “que ou aquele que não se movimenta muito, que anda e/ou se exercita pouco”. Pois é justamente a conclusão que se chega ao observar os dados revelados em pesquisa elaborada pelo Sesi (Serviço Social da Indústria), e divulgados na última segunda-feira (26).

O levantamento Pesquisa Saúde e Trabalho mostra que 52% dos entrevistados nunca ou raramente praticam algum tipo de atividade física. Entre os indivíduos que realizam atividades físicas, somente 22% o fazem todos os dias, enquanto outros 13% praticam pelo menos três vezes na semana. 

Os que se exercitam ao menos duas vezes por semana somam somente 8%. O estudo ouviu 2.021 pessoas com 16 anos ou mais espalhadas por todas as regiões do País, entre os dias 10 e 14 de março deste ano. O intervalo de confiança da pesquisa é de 95%, e a margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Praticar regularmente atividades físicas, de acordo com especialistas, é considerado um dos cuidados essenciais para a promoção da saúde. O levantamento ainda associa a prática regular de atividades físicas e as doenças. Em cima dessa associação, a pesquisa revela que 72% dos praticantes regulares de algum tipo de atividade não tiveram problemas com a saúde nos últimos 12 meses. Já entre os que nunca foram adeptos das atividades, 42% deles sofreram com complicações na saúde no ano passado.

Douglas Marinheiro da Silva, 36 anos, analista de treinamento e desenvolvimento de pessoas, de Santo André, depois de idas e vindas, em período de “três longos anos vivendo uma vida totalmente sedentária, com péssimos hábitos alimentares e consumo excessivo de bebida alcoólica”, resolveu levantar do sofá e acabar de vez com o sedentarismo. 

Agora, isso desde 2013, encara a academia, em média, quatro vezes por semana, com duas horas e meia diárias de musculação. A motivação para, enfim, dar início aos treinamentos foi, além do desejo de “mudança de hábitos”, uma foto em família.

“Fiquei relativamente diferente, a ponto de um casal de amigos muito íntimos, ao verem uma foto de fim de ano, dessas que tiramos em família, não me encontrarem nela e ainda me indagarem: “Você não está nessa foto?”. No início eu pensei ser brincadeira deles. Não estamos te achando aqui!”. Vi que estavam realmente me procurando na foto. Isso mexeu comigo! Eles ficaram perplexos por não terem me reconhecido. Foi o suficiente para que eu pensasse: “Não posso admitir que eu tenha me entregado a uma vida de hábitos desregrados, não saudáveis! Preciso, mudar!”. Daí em diante, não só planejei, mas coloquei o plano e as metas em prática”, conta ele.

O analista iniciou a prática por hobby, mas, agora, depois de ver, e sentir, as mudanças na musculatura, após “bons ganhos, boa evolução devido à constância”, com aumento gradativo de gordura e medidas, e de adotar a atividade como estilo de vida, revela ter outra meta, qual seja, a de competir em campeonatos, objetivo que não está longe de acontecer. Em relação aos impactos positivos na vida, ele mesmo enumera.

“Mais disposição, ânimo para um dia cheio de atividades, para trabalho, estudos, casa, treino; redução drástica nas dores corporais; ganho de força para atividades simples, como carregar uma sacola pesada de compras no supermercado; arrastar um móvel pesado; carregar minha filha de 7 anos (Vitória), do sofá para a cama dela depois que adormece; aumento da imunidade”, comemora ele. 

Além de tudo isso, ele ainda acrescenta “ganho de massa magra, músculos; redução do percentual de gordura e medidas; definição da linha corporal, shape; mais qualidade no sono, aumento da autoestima e da confiança; diminuição dos riscos de problemas cardiovasculares; controle glicêmico e do colesterol; aumento do consumo de água, melhora a alimentação… A lista é realmente longa. Só quem vive para desfrutar dela”, conclui.

Já a paulistana Nara Blanck sempre gostou de esportes, é amante de futebol, mas nunca seguiu carreira em nenhum. A falta de tempo sempre foi a principal culpada. Até que dores na coluna a fizeram começar no pilates, atividade que envolve uma série de movimentos que se concentram na força, postura, equilíbrio e flexibilidade. Contratou um personal, mas como os horários eram incompatíveis, fazia só aos sábados. Conforme foi se adaptando, o gosto pelos exercícios foi crescendo na mesma proporção.

Nara inicia os exercícios físicos com o dia ainda amanhecendo na cidade de Keip Town, na África do Sul

“Depois eu queria fazer mais de uma vez na semana porque uma vez só não era bom. Fui fazer às 5h da manhã. E acordar 5h da manhã para fazer exercícios não é legal (risos), mas era algo que me fazia bem”, diz. 

“O esporte é algo que me faz bem, momento em que eu estou focada naquilo, sem pensar em nada. E eu trabalhava em uma agência, onde eu acompanhava grupos de corrida, de corredores mesmo, de maratona, de ultramaratona, e eles sempre diziam que eu tinha perfil de corredora. Mas eu não queria correr”, complementa. 

Em uma dessas consultas de rotina, Nara descobriu que estava com “colesterol alto”. O médico, então, deu a ela três opções, quais sejam, tomar remédio, fazer dieta ou praticar exercícios além do pilates, para, assim, resolver esse probleminha. Pesquisou e descobriu que um dos melhores esportes para isso é a corrida. “Esse foi o gatilho para eu iniciar. Então, o personal começou a passar uns treinos leves, para começar a correr, fui fazendo e depois eu quis fazer uma prova de cinco quilômetros e depois uma de dez, e eu treinava para isso”, revela.

Com a pandemia, Nara foi obrigada a mudar novamente os hábitos, o que fez com que diminuísse a frequência, mas sem abandonar completamente as atividades, mesmo que somente on-line ou por meio de aulas gravadas ou até mesmo em treinos aos sábados na USP (Universidade de São Paulo), próximo à sua casa. 

Mas nova mudança, desta vez de país, a fez rever os planos. Nara era funcionária em uma agência em São Paulo e foi convidada para trabalhar na cidade de Keip Town, na África do Sul. Quando se mudou, diz ela, percebeu que poderia continuar com o personal, fazendo on-line os exercícios. O fuso horário de cinco horas, entretanto, atrapalhava, pois teria de praticar as atividades no horário do almoço. A aula gravada dava “preguiça”.

“Pensei: ‘Quer saber? Aqui é um país que todo mundo pratica esportes, vou voltar a correr’. Eles incentivam mesmo a galera a praticar esporte, a se alimentar bem. E eu moro de frente para o mar, tem um calçadão. Falei com meu personal, e ele me passa uma planilha de corrida, que eu estou seguindo. Praticar atividade física me faz realmente me distrair. Se eu fico muito tempo sem treinar, tipo uma semana sem fazer algum treino, já começo a me sentir mal, porque eu preciso descarregar. Sei que em São Paulo, no Brasil é mais difícil, mas aqui em Keip Town eu posso sair do trabalho muito estressada, e isso já aconteceu, vou correr e depois volto para casa e continuo trabalhando. Isso porque tem flexibilidade, tem o lugar, que é bom, bonito, tem calçadão para correr”, relata ela.

A adaptação e a melhora nas dores foram tão boas e rápidas que a jovem já se programou para novas atividades. “Agora estou com objetivo de participar de uma prova de dez quilômetros, em agosto, que quero fazer em menos de uma hora. Meu objetivo hoje tem sido reduzir meu tempo na corrida. Para isso, treino corrida quatro vezes na semana. E também preciso incluir a academia para o fortalecimento, porque a corrida é legal, baixa meu colesterol, mas preciso fortalecer.”

Com objetivo de estimular a prática de atividades físicas, o Ministério da Saúde lançou em abril do ano passado o Guia de Atividade Física Para a População Brasileira, com cerca de 50 páginas com orientações a todas as idades. “A atividade física é importante para o pleno desenvolvimento humano e deve ser praticada em todas as fases da vida e em diversos momentos. Os exercícios físicos também são exemplos de atividades físicas, mas se diferenciam por serem atividades planejadas, estruturadas e repetitivas com o objetivo de melhorar ou manter as capacidades físicas e o peso adequado, além de serem prescritos por profissionais de educação física”, diz trecho de texto da publicação.

A pasta também disponibiliza, desde 2011, o PAS (Programa Academia da Saúde), que atende aproximadamente 1.800 estabelecimentos, com recursos que somam cerca de R$ 51 milhões, segundo o ministério. 

“Se existe uma forma de retardar o envelhecimento, evitar doenças e gastos com remédios para controle de hipertensão, diabetes, entre outros, se chama atividade física e principalmente aquelas que envolvem treinos de força resistida, a musculação. Não perca tempo, comece a plantar hoje para colher excelentes resultados lá na frente. Não espere ser acometido de algo que te force a fazer uma atividade física, sendo que você pode iniciar hoje, saudável. Siga!”, aconselha Douglas.

“ A atividade física deixa a pessoa mais leve e mais feliz”, encerra Nara.

AMBIENTE DE TRABALHO

O levantamento do Sesi também trouxe dados relativos a trabalho e qualidade de vida. Dos entrevistados, 94% dizem concordar que a pessoa com a saúde física e mental em dia é mais produtiva no seu ambiente de trabalho. O psicólogo é visitado regularmente por 12% dos indivíduos ouvidos na pesquisa.

Já 88% dos entrevistados consideram que a saúde não é só a falta de doenças, mas, sim, estado completo de bem-estar mental, físico e social.  

Em relação ao ambiente de trabalho, 66% dos ouvidos na pesquisa afirmaram que as empresas em que atuam impõem limites de horas de trabalho ou número de turnos, enquanto 55% delas permitem flexibilidade e pausas para descanso ou prática de atividades físicas. Por fim, 49% têm estrutura para prevenir violência, assédio e discriminação, ambiente livre do fumo e política de jornada de trabalho maleável. 

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